sexta-feira, 22 de junho de 2012

Caparica na História


Comecei este mês uma colaboração com a Junta de Freguesia de Caparica que irá publicar no seu sítio da internet numa nova rubrica chamada «Caparica na História» alguns dos meus artigos sobre a história dos lugares, sítios e património da Freguesia de Caparica, de onde sou natural.
Este espaço estará também disponível a outros autores e investigadores locais que queiram contribuir com os seus artigos.
O primeiro artigo é dedicada a uma quinta situada na Vila Nova chamada «Quinta dos Pilotos» e cuja história está ligada a Cipriano Pereira da Silva, Piloto Mor da Carreira da Índia e do Brasil, Capitão Tenente de Mar que prestou serviços na Praça da Nova Colónia do Sacramento (atual Uruguai) no século XVIII.
Outros artigos se seguirão.
Rui Mendes

quinta-feira, 29 de março de 2012

Lista das Igrejas e Capelas desaparecidas da Caparica (33)


MONTE DE CAPARICA (19)
Igreja de Nossa Senhora da Rosa (Convento dos Frades Paulistas da Serra de Ossa / Barriga / Casalinho)

Capela de Nossa Senhora da Conceição (Quinta de Nossa Senhora da Conceição / Alcaniça)

Capela de Nossa Senhora do Cabo (Banática)

Capela de Nossa Senhora da Piedade (Quinta da Piedade / Bairro Figueira)

Capela de São João Baptista (Fonte Santa)

Capela de São Gonçalo (Quinta da Azenha)

Capela de Nossa Senhora do Bom Sucesso (Quinta do Padres Jerónimos / Porto Brandão)

Capela de São Pedro (Paulina)

Capela de São Lázaro (Cemitério do Lazareto)

Capela de Santa Bárbara (Quinta de Santa Bárbara / Costas de Cão)

Capela de Nossa Senhora da Conceição ou do Rosário (Quinta do Portinho da Costa)

Capela de São João Baptista (Quinta de Pêra do Meio)

Capela (Quinta dos Padres da Graça / dos Pissolos)

Capela de Santo António (Quinta de Santo António / Casas Velhas)

Capela de Nossa Senhora da Assunção ou da Estrela (Quinta da Estrela / Casas Velhas)

Capela de São Francisco recebendo as Chagas de Cristo (Quinta de São Francisco dos Matos / Externato)

Capela de São João Baptista (Quinta do Telhal / do Chaves)

Capela de Nossa Senhora da Conceição (Quinta da Estrelinha)

Capela de São Pedro (Cerca do Convento dos Capuchos)

TRAFARIA (7)
Capela do Santíssimo Nome de Jesus (Quinta de Baixo do Conde de Caparica)

Capela de Nossa Senhora da Conceição (Quinta da Bica / do Ribeiro)

Capela da Nossa Senhora do Bom Sucesso ou dos Santos Reis Magos (Quinta da Raposeira)

Capela de Nossa Senhora dos Desamparados (Fazenda em Murfacém)

Capela de Nossa Senhora da Glória ? (Quinta de Murfacém de Gaspar da Rua)

Capela de Nossa Senhora da Madre de Deus (Quinta do Portinho dos Buxos)

Capela de São Jerónimo (Trafaria, próximo da actual Igreja de São Pedro)

COSTA DE CAPARICA (0)

SOBREDA (5)
Igreja de Nossa Senhora da Assunção (Convento dos Padres Agostinhos Descalços / Sobreda)

Capela de Nossa Senhora do Rosário (Quinta do Caiado)

Capela de Nossa Senhora do Monte Carmo (Quinta da Genovesa)

Capela de Nossa Senhora da Penha de França ou dos Enfermos (Quinta da Azinhaga / Guarda Mór)

Capela de São Marcos (Quinta da Várzea / do Salgado)

CHARNECA DE CAPARICA (2)
Capela de São Sebastião ou Nossa Senhora da Assunção (Quinta do Vale Rosal)

Capela de Jesus, Maria e José (Casal da Aroeira)

sábado, 17 de março de 2012

Charneca de Caparica (1): Quinta de Monserrate (2.ª Revisão)




 

Um dos elementos patrimoniais mais importantes da freguesia da Charneca de Caparica, junto com a Quinta do Vale Rosal, a Quinta de Monserrate (antiga Quinta do Banha) constitui não só pela sua valia histórica, como também pela sua importância artística um marco na paisagem desta vila do Concelho de Almada.
Infelizmente, existem ainda muitos aspectos da sua história que são desconhecidos, assim deixo aqui um pequeno contributo, que espero ampliar no futuro, sobre alguns dos aspectos históricos ligados às origens deste espaço.

Para mais informação podemos consultar a respectiva Ficha do Inventário do Património Arquitectónico, em:



(Planta Cadastral)

Cronologia:
1626 – Auto de Avaliação das benfeitorias que esta Quinta precisava com pareceres para se aforar, ou arrendar. [2.ª Rev.]

1643 – Escritura pela qual Luís Correia da Paz comprou a Quinta do Banha aos herdeiros de Francisco de Matos Cardozo. [2.ª Rev.]

1650 – Sentença que obteve Luiz Correa da Paz, para se levantar o Sequestro na mesma Quinta feito pela Fazenda Real, por Fiança a que se dizia obrigado hum antigo possuidor dela. [2.ª Rev.]
Fonte:
TT, Colégio dos Nobres, Liv. 71, f. 34

1653 – Na vila de Almada vivia Nicolao Davaluis (?), o Banha e sua mulher Mariana de Sousa Coelha (Correia ?), morador na cidade de Ulieca (?) e residente nesta vila, que casou o filho Luís António Davahuy o Banha com Antónia da Mota Correia, filha do Licenciado Gaspar da Mota Lobato, Prior de Santiago de Almada. A origem da quinta do Banha (antecedente da Quinta de Monserrate) poderá estar relacionada com esta família, possivelmente de origem francesa.
Fonte:
DGARQ/ADS, CNA, L. 45, f. 87v, 5.8.1653

1672 (23 de Janeiro) – A quinta do Banha pertencia a Luís Correia da Paz, filho de Fernão Correia da Silva e Branca da Paz, e estava ligada a um vínculo de Capela estabelecido nesta data (Testamento lançado no Cartório do T. Aurélio de Miranda), e que tinha como cabeça a Capela de S. Luiz Gonzaga do Colégio da Cotovia dos Padres da Companhia.
Esta Capela, que era a primeira do lado do Evangelho junto do púlpito, foi comprada ao Noviciado dos Padres do Colégio da Provação da Cotovia por escritura de 30 de Dezembro de 1666 (Cartório do T. António Pinto de Lemos), por Luís Correia da Paz, muito devoto daquele Santo, seu patrono, a fim de ali  ter jazida, dando por ela 390$000 réis. Por outra escritura de 27 de Abril de 1669, deu mais 350$000 réis, obrigando-se o reitor à fábrica da capela e mais encargos.
Falecendo Luís Correia em 1691 deixou por testamento um juro de 69$000 réis na Estância do Tabaco para duas missas anuais de 30$000 réis cada e os 10$000 réis para os administradores.
Por morte dos seus filhos ficaram ainda ao Noviciado umas casas na rua do Ourives, com obrigação de outra missa diária, e a quinta do Banha, em Caparica, como o encargo de uma missa anual.
Os Jesuítas começaram a administrar a quinta em Dezembro de 1725, por morte de Brites da Paz, uma das duas filhas de Luís Correia, que casou 2 vezes (com  Domingos Lopes da Silveira, e depois com Diogo Mendes Correia) mas sem descendência, e que terá mandado edificar a Ermida de S. Luiz da referida quinta do Banha.
Além da filha Brites da Paz, a quem Luís Correia deixou bens em vida,  teve também de Guiomar Rodrigues de Sousa, sua mulher, mais uma filha, Branca da Encarnação, que foi freira no Convento de St.ª Mónica, e um filho, Luís Correia de Sousa, que morreu em 1655 e foi depois sepultado na capela de seu pai.
Fontes:
Depois do terramoto: subsídios para a história dos bairros, Vol. 1 por Gustavo de Matos Sequeira, 1934, pp. 239-241

DGARQ/TT, Hospital de São José, L.º 29, ff. 350-371

1680 – Registo da décima da quinta de Luís Correia do Banha.
Fonte:
AHMA, L.º Déc. Caparica, 1680, f.21

Década de 1690 – Possivelmente neste período é edificada na quinta da Caparica de Brites de Paz uma Ermida dedicada a S. Luiz, Rei da França (ou possivelmente B. Luiz Gonzaga).
Fonte:
DGARQ/TT, Cartório do Distribuidor, L.º 70, f. 161v

1719 (19 de Setembro) ??? – Testamento de Diogo Mendes Correia, 2.º marido de Brites da Paz, viúva de Domingos Lopes da Silveira, morador junto ao Convento de St.ª Ana e proprietário da quinta do Banha, em que manda-se sepultar na Capela de S. Luiz Gonzaga dos Padres da Cotovia.
Fonte:
DGARQ/TT, Registo Geral de Testamentos, L.º 107, f. 41

1725 – Depois da morte de Brites da Paz a quinta do Banha entrou na posse definitiva do Noviciado da Cotovia dos Padres da Companhia em Dezembro de 1725, tendo vendido as casas, por um juro de 70$000 réis, ao Senado da Câmara, em Abril de 1695.
Fonte:
Depois do terramoto: subsídios para a história dos bairros, Vol. 1 por Gustavo de Matos Sequeira, 1934, pág. 240

1736 – No Dicionário Geográfico do Padre Luís Cardoso cita-se na freguesia da Caparica a Ermida de «S. Luiz, [Quinta do Banha]».
Fonte:
Diccionario Geográfico ou Noticia Historica de todas as Cidades, Villas, Lugares etc., pelo Padre Luís Cardoso, Vol. 2, 1751


(Foto da Quinta de Monserrate, antiga Quinta do Banha) [1.ª Rev.]

1749 (9 de Fevereiro) – Obrigação que faz António Jorge, caseiro da quinta do Banha dos Padres da Companhia de Jesus, freg N.S. do Monte de Caparica.
Fonte:
DGARQ/ADS, L. 98, s/f, 9.2.1749

1758 (Abril) – O Cura da Caparica, Padre José António Veiga cita na sua "Relação Topográfica desta freguesia de Nossa Senhora do Monte Caparica" que nos «Casais da Quinta do Banha, 13 .ª povoação em que há 56 fogos, e uma Ermida de São Luiz em a dita quinta».
Fonte:
DGARQ/TT, Memórias Paroquiais, Caparica - transcrito por Alexandre M. Flores in «Vila e Termo de Almada nas Memórias Paroquiais de 1758, Anais de Almada, 5-6 (2002-2003), pp 23-76

1759 (8 de Setembro) – Auto de Sequestro feito na Quinta do Banha.
AUTO
«SEQUESTRO FEITO NA QUINTA DO BANHA, assim chamada (sita em Campolide [equívoco de tradução!]), Termo de Depósito dos Trastes de Ermida que ficaram em mão e poder de António Pereira, caseiro da Quinta do Banha, assim chamada:
- um cálix de prata dourada, e sua patena do mesmo, e sua colher do mesmo;
- duas Bolsas de Corporais;
- três véus de cálices;
- duas palas; - seis sanguinhos;
- duas toalhas de Comunhão;
- uma toalha de Altar;
- um frontal;
- um Breviário em seu uso e três livrinhos pequenos;
- duas casulas;
- uma alva;
- cinco portas de cortinas pequenas;
- dois Missais, um novo e outro bastante usado;
- uma estante de Altar;
- quatro castiçais de estanho;
- umas galhetas de estanho;
- duas toalhas de lavatório;
- um lavatório de folha de Flandres, usado;
- uma alampada amarela;
- uma caixa pequena em que se guardam os ornamentos»
Fonte:
Documentos para a História da Arte em Portugal, Vol. 4 – Noviciado da Cotovia e Hospício de Francisco de Borja [Arquivo do Tribunal de Contas, Erário Régio, Cartório da Junta da Inconfidência - Sequestros à Companhia de Jesus, Tomo organizado por Luiz Bivar Guerra], Lisboa: Fundação Calouste Gulbenkian, 198?, pp. 32-33.

1765 (12 de Outubro) – A Quinta do Banha está entre os bens que o Rei D. José dota para a fundação do Real Colégio dos Nobres por Carta Régia desta data. Estes bens eram, na sua maior parte, bens que tinha sido administrados pelos Jesuítas até 1759. No caso da Quinta do Banha, esta fazia parte da Capella instituída por Luis Correa da Paz, e dela os Jesuítas não contavam com o rendimento por se achar obrigada a benfeitorias. [2.ª Rev.]

1795 (27 de Agosto) – A Quinta do Banha foi aforada pelo Colégio dos Nobres ao Monsenhor Horta por 30$000 rs e laudémio de quarentena. [2.ª Rev.]
Fonte:
TT, Colégio dos Nobres, Liv. 71, f. 119


1796 (29 de Agosto) – A Quinta de Monserrate já é assim citada numa Escritura de «Compra que faz o Ilº João Joze Carlos de Miranda e Orta (FCSM, CSM, Prelado da Patriarcal da Sta Igreja de Lx), «Monsenhor Horta», a Thereza Maria de Jesus e mais herdºs de Manuel Rodrigues de huma fazenda chamada o Conhalzinho na Charneca de Caparica, constituída por terra de vinha e mato com sua casa e forno místico, que parte do nascente com a Quinta de Monserratte e poente com azinhaga chamada do Rego e do sul com terra de João Rodrigues tudo sita na Xarneca de Caparica».
Fonte:
DGARQ/ADS, Cartórios Notariais de Almada, L. 167A, f. 11, 29.8.1796

(Cunhal com Brasão e Logo com as iniciais Q.M. = Quinta de Monserrate) [1.ª Rev]

1796 – A quando das obras de remodelação das casas da quinta do Banha (correspondentes a uma parte do lugar do Botequim) foi construído um Palacete e a quinta passou a ser conhecida por Quinta de Monserrate.
Pereira de Sousa diz nos que à entrada da Quinta ostenta no portal uma lápida com a inscrição: "Quinta de Monserrate, 1796".
Fonte:
SOUSA, Raul H. Pereira de, Almada: Toponímia e História, Almada: C. M., 2003, p. 166

(Capela de Nossa Senhora de Monserrate)


1798 (26 de Maio) – António Joze Ferreira, que comprara o domínio útil da Quinta do Banha ao Monsenhor Horta, requere licença régia para remir o foro do Colégio dos Nobres por 825$000 rs de Apólice do Empréstimo aberto no Real Erário, para ficar assim também com o seu domínio directo. [2.ª Rev.]
Fonte:
TT, Colégio dos Nobres, Liv. 71, f. 78, 121

1798 – A Capela de N.ª Sr.ª de Monserrate terá sido edificada (?) por ordem de António Joze Ferreira.
Fonte:

Segundo Cyrillo Volkmar Machado, as imagens de Nossa Senhora de Monserrate e Santo António, em quadros colocados nesta Capela foram da autoria do pintor Felisberto António Botelho, cuja biografia descreve:
«É natural de Lisboa aonde nasceu em 1760. Estudou a Arte na Escola de Pedro Alexandrino, e tem pintado a óleo, a tempera, e a fresco, para os Gabinetes, Teatros, e Igrejas. Fez o painel da Cêa de 20 palmos para o refeitório dos Padres Crúzios nos Subúrbios de Lima. O da Conceição de 14 palmos para uma Ermida nas Praias. O quadro de Jordão para a Freguezia do Sacramento. A Senhora de Monserrate, e Santo António para outra Ermida no termo d'Almada. A Senhora das Dores para outra pequena Igreja. Em 1806 pintou todas as figuras, tanto as coloridas como as de claro-escuro no tecto chamado do Costa no Paço de Nossa Senhora da Ajuda.
Na Ermida das Mercês, junto a Carnide tem o painel da mesma invocação, outros da vida de Nossa Senhora, e alguns com Anjos. São também produções do seu engenho os de Nossa Senhora, e do Santíssimo Nome de Jesus, que se veneram na Freguezia de Odivellas.
Começou a estudar a Pintura em 1776, e prosseguio sem interrupção até 1808, sendo a última obra que fez o Retrato de Sua Magestade, então Príncipe Regente. Depois disso, achando-se falto de vista, só tem dirigido algumas cousas executadas por seu filho e Discípulo, António José Faustino Botelho».
Fonte:
Colleção de memorias relativas ás vidas dos pintores, e escultores, Por Cyrillo Volkmar Machado, Joaquim Martins Teixeira de Carvalho, Vergílio Correia, 1922, pág. 110

(Imagem do interior da Capela, onde se vê os dois altares laterais,
de N.S. de Monserrate e St.º António) [1.ª Rev]



1807 (8 de Janeiro) – Abertura do Testamento do Ilustríssimo António José Ferreira, Cavaleiro e Comendador na Ordem de Cristo, negociante morador na Rua Direita da Porta de St.ª Catarina, freguesia do SS.º Sacramento de Lisboa e possuidor da Quinta de Monserrate na outra Banda.
Deixou como herdeiro universal o sobrinho Francisco António Ferreira, a quem recomenda que continue a missa de todos os Domingos e Dias Santos na Capela da Quinta de Monserrate, a que obriga o rendimento da mesma quinta e herança, isto em benefício público dos vizinhos da mesma quinta.
O Testamento foi escrito em 6 de Janeiro de 1807 e António José faleceu 1 dia depois.
TESTAMENTO
«Em nome da SS.ª Trindade = António Joze Ferreira, Cavaleiro e Comendador da Ordem de Cristo, morador nesta cidade na Freguesia do SS.ª Sacramento achando-se no seu prefeito juízo dispondo por morte faço meu testamento e declaro de última vontade (…) deixando o meu funeral à disposição e arbítrio do meu testamento (…) 100 missas por minha Alma de Corpo presente de 480 $ rs cada vez, no tempo de 2 meses 200 missas de 240$ rs cada vez, 100 missas pela alma do meu pay, 100 missas pela alma da minha may, 100 missas pela alma de meu irmão João Ferreira, todas de 240$ rs
(…) sem avendores e devedores instituo por universal herdeiro o meu sobrinho Francisco António Ferreira, e por testamenteiros o meu sobrinho e António Joze Nunes, meu Guarda Livros
(…) bens da Comarca de Viseu, minha pátria, deixo em duas partes iguais, uma para os filhos do meu irmão Alexandre e outra para os filhos do meu irmão Fradique Ferreira
(…) 10 contos de réis divididos por todos os meus sobrinhos //
90$ rs cada ano para a minha sobrinha Jozefa Rosa de São João, Religiosa no Tojal
(…) ao meu sobrinho Luís António Ferreira, meia propriedade na Rua dos Ourives do Ouro, que faz esquina, mais 16 contos de réis de uma vez
(…) ao meu sobrinho António Ferreira da Silva, uma propriedade na Rua do Ouro próxima, e mais outros 16 contos de réis
(…) à Irmandade do SS.º Sacramento perdoa e deixa em esmola o que esta lhe esteja devendo
(…) perdoa a Sociedade de Lisboa e Rio de Janeiro com os seus 4 sobrinhos o que esta lhe esteja devendo em benefício dos 4 sobrinhos
(…) à Comadre D. Joaquina Roza de Morales a propriedade imediata a esta em que vive por sua habitação
(…) O meu herdeiro será obrigado a continuar a Missa todos os Domingos e Dias Santos na Capela da Quinta de Monserrate, e isto é minha tenção; porque com esta // condição o instituo e gravo não só o rendimento da mesma quinta, mas toda a herança, e isto sem vínculo de Capela e só com a condição expressa em benefício público de todos aquelles vezinhos …
(…) a meu sobrinho Joze Ferreira, filho de um filho de meu tio que está na Fábrica de Portalegre deixo 4:000$ rs
(…) A Joaquim Ferreira, meu caseiro na outra banda tenho adiantado por conta dos vinhos que se venderam para a Ribeira 192$ rs mando que ajustado a conta me faça abatimento de 96$ rs
(…) e ao de Monserrate Joze Pinto mando se dê legado 8 moedas
(…) Recomendo ao meu herdeiro tenha toda a consideração em fazer que a Missa na Capella da Quinta se conserve enquanto for possível e ainda para despois delle em seus possuidores.
(…) Lx.ª 6 de Janeiro de 1807. Eu que Escrevy. Joze António de Barbosa = António Joze Ferreira.
Aprovado 6 de Janeiro de 1807
Abertura 8 de Janeiro de 1807 (…) que falecera depois da meia noite do dia anterior».
Fonte:
DGARQ/TT, Feitos Findos, Registo Geral de Testamentos, L.º 357, ff. 204-205



1813 – O Portão de entrada regista «F. A. F. 1813» que deve corresponder às obras de conclusão ou tomada de posse da quinta por Francisco António Ferreira em 1813. [*]
Francisco António Ferreira era filho de João Ferreira ou João Ferreira Sola (falecido em 16.4.1788), irmão de António José Ferreira.
Fonte:
O Chiado pitoresco e elegante: história, figuras, usos e costumes, Por Mário Costa, Edição: 2 – 1987, pp. 157-159


1825 (22 de Maio) – Casamento na: «Capella de N.ª Sr.ª de Monserrate», no «sítio da Xarneca», na quinta do «Ilustríssimo Francisco António Ferreira», morador na freguesia do Santíssimo Sacramento, Lisboa. [2.ª Rev.]
Fonte:
DGARQ/ADS, Caparica, Casamentos, L.12, f. 65v

1825 (10 de Janeiro) – Aviso sobre requerimento de Francisco António Ferreira que pretendia juntar uma fábrica de vidro á «sua Fábrica movida por Máquinas de vapor, e Fundição de ferro, estabelecida no sitio do Bom Sucesso». A resolução é de 15, tomada no palácio do Alfeite. (F. 22 a 24)
(8 de Fevereiro) – Aviso Remetendo à Junta do Comércio, para consulta, o requerimento de Francisco António Ferreira, em que pretende que na Alfandega se tome nota da quantidade de Carvão de Pedra, que lhe está designado para a laboração das suas fábricas no Sitio do Bom Sucesso (...). (F. 84 e 54v).

1831 (22 de Março) – Pelo que respeita ás duas fábricas movidas por Máquinas de vapor, das quais é proprietário Francisco António Ferreira, erectas no sitio do Bom Sucesso, avençaram-se a de manufactura de vidros, em 60$000 rs, e a de Ferraria, em dezanove mil e duzentos rei.
Fonte:
SANT'ANA, Francisco, Documentos do Cartório da Junta do Comércio respeitantes a Lisboa, II (1804-1833), Lisboa, C.M., 1978, p. 371, 373, 478

1896 – Sobre esta Capela e a festa de Santo António que nela se realizava, Duarte Joaquim Vieira Jr. assinala, em 1896, que: «O povo da Charneca não tem egreja propriamente sua. A sua missa no domingo, assim como a festividade que anualmente ali se faz nos mezes de setemebro ou Outubro, em honra do milagroso Santo António, é celebrada na pequena capela do antigo palácio do Solla, hoje propriedade da Família Ferreira. É no grande páteo d'este palacete, que é vedado por uma portão de ferro que orla a direita da estrada districtal, que se faz o arraial da festa que em todos os annos costuma ser muito vistoso e bastante concorrido».
Fonte:
VIEIRA JR., Duarte Joaquim, Villa e Termo de Almada: Apontamentos Antigos e Modernos para a História do Concelho, Lisboa: Typographia Lucas, 1896, p. 126

Séc. XX
No século XIX foi pertença do General Manuel António de Araújo Veiga, a quem chamavam "o Capitão rico", passando depois à sua filha Teresa de Araújo Veiga, ao que parece nos anos 20 do século passado.
Depois de 1910 a capela foi usada como local de culto público da Charneca, após o incêndio na Capela de Vale Rosal e enquanto igreja da Imaculada Conceição não foi aberta ao culto (1965).
A partir dos anos 40-50 a quinta passa a pertencer ao empresário Vasco Morgado.

Vasco Manuel Veiga Morgado (1924-1978), nascido na Charneca de Caparica, era neto do general Araújo Veiga, tendo casado com a actriz Laura Alves (1927-1986), de quem teve um filho, o também empresário Vasco Morgado Jr., ao que parece o último proprietário conhecido da quinta.

Foi Vasco Morgado que mandou fazer a pintura da abóbada da capela (hoje desaparecida pelas ruínas da casa e da capela) ao artista Francisco Relógio (1926-1997), figura do movimento artístico da arte moderna (para uma biografia mais detalhada veja-se: http://www.circuloarturbual.com/default.aspx?tabid=176).

Após o 25 de Abril de 1974 chegou a funcionar neste espaço um infantário.

Em Julho de 2000 foi aprovada de moção pela Assembleia de Freguesia da Charneca de Caparica pedindo a recuperação e posterior classificação como imóvel de interesse municipal.

Séc. XXI
Em 2011 a propriedade está bastante arruinada e encontra-se para venda. [1.ª Rev.]

 


Fontes adicionais:
ARCOS, Conde dos, Caparica através dos Séculos, vol. 1, s. l.; 1972, p. 35
«Quinta de Almada para classificar», in Jornal Público, 2000, 12 de Julho;
«Anastácio quer Monsarrate», in Jornal Sem Mais, 2000, 17 de Agosto.


RUI M. MENDES
Caparica, 29 de Abril de 2011

Edições e Revisões deste Artigo:
1.ª Ed.:     29/04/2011
1.ª Rev.:  26/06/2011
2.ª Rev.:  17/03/2012