sábado, 17 de março de 2012

Charneca de Caparica (2): Aroeira (3.ª Revisão)


 Introdução

A Vila da Charneca de Caparica é uma das povoações do Concelho de Almada cujo povoamento é mais recente, pois apesar de alguns núcleos ligados à actividade piscatória e de exploração mineira que terão existido nas zonas da Adiça e Fonte da Telha (próximas mas fora dos limites da freguesia), os primeiros registos de uma fixação humana mais permanente datam já da segunda metade do século XVII estando ligados à actividade pastorícia e florestal (p. ex. sangradores e couteiros).
De facto até ao século XVII toda a região seria constituída na sua quase totalidade por extensas áreas de vegetação silvestre e pinhais, como o Pinhal de Cavala, o Pinhal da Aroeira, o Pinhal de Val de Figueira, ou a Mata dos Medos.
Ao povoamento tardio fruto de uma menor valia agrícola dos seus terrenos, acaba por corresponder uma menor diversidade e antiguidade dos seus elementos patrimoniais, quer se tratem de casas e quintas, de igrejas e capelas, ou de outros elementos como moinhos, fontes, etc., e os que existem, ou estão em mau estado de conservação, ou, como no caso do Cruzeiro dos 40 Mártires, em vias de desaparecer!
Assim, aquilo que noutras localidades mais ricas em vestígios patrimoniais é importante, em localidades como a Charneca de Caparica é essencial, que é a descoberta e valorização de todos os elementos e vestígios históricos, assim dos mais antigos como dos mais recentes, e que constituíram a herança patrimonial das gerações futuras.
Falando especificamente da Aroeira, que escolhi para este 2.º post por se tratar um dos lugares mais recentemente urbanizados do território da Freguesia e Vila da Charneca de Caparica, uma visita à zona rapidamente nos transmite, pela análise da arquitectura local, que se trata de um lugar urbanizado há pouco mais de 30-40 anos. Esta urbanização ocupou uma vasta área a sul das Quintinhas, nos chamados Pinhal de Valbom e Pinhal da Aroeira. Trata-se pois de um lugar que à primeira vista está desprovido de elementos históricos e patrimoniais, no entanto numa visita mais cuidada encontramos alguns edifícios recentes com algum interesse arquitectónico e urbanístico, e procurando nos arquivos e cartografia antiga encontramos ainda pistas sobre outros elementos prévios à urbanização do lugar e que merecem ser conhecidos, investigados e quem sabe redescobertos!


O Casal da Aroeira e a história da sua Capela
 
(Localização e Fotos aéreas da actual «Casa da Aroeira», foto Bing Maps) [1.ª Rev.]


Das esparsas edificações que existiram até ao século XX na zona da Aroeira, a de que temos a notícia mais antiga é o «Casal da Aroeira», ou «do Arneiro», a qual deveria corresponder à actual «Casa da Aroeira», situada entre o Pinhal da Aroeira e o Pinhal do Arneiro, e registada na cartografia do século XIX e XX.
Documentada no século XVII, esta propriedade aparece na cartografia até aos anos 60-70 do séc. XX e ainda hoje existe uma propriedade chamada do Pinhal da «Casa da Aroeira» ou «do Inglês» como também é conhecida, situada entre a Urbanização da Aroeira e a estrada de acesso à Fonte da Telha, e onde se encontra uma antiga residência originária já da 1.ª metade do século XX. [ 1.ª Rev.]

Encontramos pelo menos 3 registos do século XVII sobre o Casal da Aroeira, dois que se encontram transcritos nos Livros da Câmara Eclesiástica de Lisboa e um citado no Index das notas de vários tabeliães de Lisboa, entre os anos de 1580 e 1747 (obra em 4 tomos com extractos de escrituras coligidos por Luiz Montez Matoso).
Os documentos da Câmara Eclesiástica referem que em 1657, o Padre António Soares de Albergaria (1581, Castelo Branco - + 1662 c., Almada, ver apontamentos biográficos no post «Figuras de Almada (2): Padre António Soares de Albergaria, Historiador e Heraldista») tinha edificado no seu Casal da Aroeira, na freguesia de Nossa Senhora do Monte de Caparica, termo da vila de Almada, uma Ermida ou Capela dedicada a Jesus, Maria e José, a Sagrada Família.

Na sequência da edificação da Capela o Padre António Soares de Albergaria apresentou uma petição ao Cabido da Sé de Lisboa para se lhe conceder Licença para nela se celebrar Missa como Ermida pública, o que lhe foi concedido por uma Provisão dada em Lisboa, a 11 de Julho de 1657 e registada à folha 294, do Livro IX de Registo da Câmara (cfr. Arquivo Histórico do Patriarcado de Lisboa, U.I. 317, ff. 294-294v), com o seguinte sumário:
«Provisão de Licença ao Padre António Soares de Albergaria, para se dizer Missa na Ermida de Jesus, Maria e José, que edificou junto das casas da sua quinta do Casal da Amoreira (sic), na freguesia de Nossa Senhora do Monte de Caparica, termo da vila de Almada».

No mesmo livro na folha 294v, regista-se ainda a Escritura de Dote para a constituição da fábrica da Ermida, que era uma das condições necessárias para obter a referida licença, as outras eram ter acesso público e estar decentemente fabricada e com todos ornamentos necessários para a celebração do culto religioso. Na Escritura, feita em 5 de Junho de 1657 por Manuel Medeiros Caldeirão (Tabelião público da vila de Almada), o Padre António Soares de Albergaria, Clérigo do Hábito de S. Pedro, vincula 3$000 réis anuais dos seus rendimentos para a referida fábrica da «Ermida de Jesus, Maria e José, que tinha edificado no seu Casal chamado da Roera, no termo da vila de Almada».

É curioso verificar que esta Ermida ou Capela originária de 1657, não aparece posteriormente referida, nem em Corografias e Dicionários Geográficos do século XVIII, nem nas Memórias Paroquiais da Caparica de 1758, tal pode indicar que a mesma, ou pela sua localização remota e certamente isolada, ou por uma existência efémera, poderá ter sido pouco conhecida à época.

De facto logo passado 5 anos da fundação da Capela, em 1662, o Casal da Aroeira (então chamado «Casal do Arneiro»), era aforado pelos herdeiros do Padre António Soares de Albergaria, Manuel Soares de Albergaria, seu sobrinho, e respectiva mulher D. Joana Brandoa (moradores em Lisboa, na rua dos Galegos), a um tal Bartolomeu Rodrigues, conforme se regista numa Escritura de aforamento de 7 de Novembro de 1662, nas notas de Gaspar Cardoso, tabelião em Lisboa (Index de Notas de Vários Tabeliães de Lisboa, T. IV, p. 71).

Da documentação recolhida não foi possível determinar qual o destino desta propriedade, existem no entanto algumas pistas:
Em 1700 um dos pinhais que confrontava com a Quinta da Charneca de Luís de Sousa Valdez (depois Quinta de Cima de Feliciano Velho) era o Pinhal de D. Fernando de Almeida, tio do 3.º Conde de Assumar/1.º Marquês de Alorna.

Em 1814/1816 é referido que o Pinhal da Aroeira fora confiscado ao Marquês de Alorna.
Tudo parece pois indicar que o Casal e Pinhal da Aroeira tenham sido adquiridos no último quartel do século XVII por D. Fernando de Almeida tendo depois passado à posse da Casa de Alorna.

Entretanto (depois da 1.ª edição deste artigo) foi possível confirmar na Lista dos Fregueses de N:ª Sr.ª do Monte de Caparica no ano de 1745, que o Casal da Aroeira pertencia ao já referido Conde de Assumar, residindo nele 6 pessoas, um casal, três criados, e um mateiro. [2.ª Rev.]

Segundo apurámos junto do Sr. Salgueiro (actual caseiro do Pinhal da Casa da Aroeira, ou Pinhal do Inglês), já no século XX o Pinhal e a Casa da Aroeira entram na posse de um senhor inglês de nome Alfred Sindley (?), estando actualmente na posse do seu filho, terá sido este Sr. Alfred Sindley responsável pela actual Casa da Aroeira, uma residência simples da primeira metade do séc. XX, que de acordo com o Sr. Salgueiro não terá mais de 60-70 anos, o que faria com que tivesse sido construída por volta dos anos 4o do século XX. [ 1.ª Rev.].
      Em 1972 o Pinhal da Aroeira era pertença de Alda Maria do Rosário Harriet da Silveira Bulloch e fazia extrema a norte com as Quintinhas, a nascente com Valbom, a sul com o Pinhal do Arneiro dos herdeiros de Domingos de Sousa e Holstein Beck, e a poente com o Pinhal dos Medos da Direcção Geral dos Serviços Florestais, conforme se depreende do Decreto n.º 213/72 de 26 de Junho. Este Decreto clarifica os limites administrativos entre os concelhos de Almada e Seixal, determinando que a extrema entre os dois concelhos seja estabelecida pela extrema entre o Pinhal da Aroeira e o Pinhal do Arneiro [3.ª Rev.]. 

(vd. http://www.igeo.pt/produtos/cadastro/caop/download/DO/Decreto_213_72.pdf)






 


(Foto Aérea e actual Casa da Aroeira e poço) [ 1.ª Rev.]


É no entanto é inequívoco que a cartografia mais antiga refere esta «Casa da Aroeira», como na Carta Militar do Barreiro 1:25.000, de 1939 (IGEOE) ou a Carta dos Arredores de Lisboa 1:20.000, de 1904 (IGEOE). Aliás numa Carta mais antiga a «Carte chorographique des environs de Lisbonne», datada de 1821, encontramos também registada uma casa, casal ou quinta da «Arueira», e mais curioso ainda é que próximo deste sítio, em pleno Pinhal dos Medos, no Medo do Pinhal Manço, cerca do sítio anteriormente referido como «Casa de Pau», e por alturas do sítio chamado da Adiça (que poderá corresponder às antigas Minas de Ouro que por aqui existiram da Idade Média até ao século XVII), há um registo de uma Igreja ou Capela, seria a tal Capela de Jesus Maria José, fundada pelo Padre António Soares de Albergaria no século XVII, não sabemos ... [ 1.ª Rev.]






(Uma Capela ? e o Casal da Aroeira, registados num Mapa de 1821: «Carte chorographique des environs de Lisbonne», Cfr. http://purl.pt/16986) [ 1.ª Rev.]


Outros Elementos patrimoniais antigos da Aroeira
Embora se possa tratar o elemento patrimonial mais antigo na zona da Aroeira, o Casal ou Casa da Aroeira, de que restam apenas vestígios na toponímia local, não foi a única construção antiga que existiu por estas zonas.
Pela análise da Cartografia histórica dos séculos XIX e XX podemos tentar encontrar nesta zona outros elementos edificados antigos.
Na Carta de 1816, «Carta Topográfica da Península de Setúbal», junto à escarpa já dentro do Pinhal dos Medos, entre a Descida da Raposa e a Descida das Vacas, encontramos uma «Casa de Pau», que poderá estar associada à guarda do referido Pinhal dos Medos, que era coutado.
Na «Carte chorographique des environs de Lisbonne», datada de 1821, encontramos outros elementos também muito interessantes já citados anteriormente a propósito do Casal da Aroeira.

Na Carta dos Arredores de Lisboa, de 1904, regista-se nesta zona, no Pinhal dos Medos, a «Casa da Guarda»; no Pinhal de Valbom, o sítio das «Malhadas»; no Pinhal da Aroeira, a «Casa da Aroeira»; e já próximo da Fonte da Telha, o «Posto Fiscal».
O «Quartel do Posto Fiscal da Fonte da Telha» é um projecto simples do Major de Eng.ª Esteves Pereira datado de 1907 (vid. http://sidcarta.exercito.pt/bibliopac/bibliopac.htm). [2.ª Rev.]

Na Cartografia de 1961, encontramos junto ao cruzamento da Aroeira, a «Casa do Guarda Fiscal»; junto à Descida da Raposa, o Edifício da 6.ª bateria do Regimento de Artilharia da Costa (operacional de 1958 a 1998); e ainda próximo da Fonte da Telha, o Marco Geodésico do «Cabo da Malha», extrema do concelho de Almada, e cujo topónimo é bastante antigo.
Alguns destes elementos permanecem, de outros já restam vestígios, outros ainda que desapareceram completamente na urbanização da Aroeira.


(Portão próximo à Casa da Aroeira, com as iniciais B. S.)


Património para o século XXI
Na arquitectura actual o que mais se destaca é sobretudo o Plano da Urbanização Golfe Aroeira ou Herdade da Aroeira onde pontuam diversos exemplos de boa arquitectura civil moderna, como por exemplo a Casa da Aroeira, Lote, 180, projecto de 2000-2007, da ARX PORTUGAL, Arquitectos Lda. – Arq.ºs José Mateus e Nuno Mateus. 
Os próprios Campos de Golfe são projectos de autor, neste caso de autores - Arqtºs Frank Pennink (Campo Aroeira I, inaugurado em 1973) e Donald Steel  (Campo Aroeira II, inaugurado em Abril de 2000) . [ 1.ª Rev.]  

(Urbanização Golfe Aroeira - Foto Aérea, Google Maps) [ 1.ª Rev.]


Ao nível dos equipamentos mais recentes, destacamos o edifício do Colégio do Vale, inaugurado em 21 de Setembro de 1992, e a Escola Básica / Jardim de Infância da Charneca de Caparica. [ 1.ª Rev.]


(Colégio do Vale - Av. Vale Bem) [ 1.ª Rev.]



(EB 1/JI - Av. Vale Bem) [ 1.ª Rev.]


Inaugurado em 1999, o Edifício "Sonho e Esperança", é sede da «Associação Almadense Rumo ao Futuro» (A.A.R.F.), IPSS fundada em 1990, e que apoia jovens e adultos com deficiências intelectuais e multi-deficiências, com idades a partir dos 16 anos, e compõe-se de um Centro de Actividades Ocupacionais, na Rua Soeiro Pereira Gomes, 2 – 4, Vale Bem – Marisol, 2820-387 Charneca da Caparica.


(Planta do Edifício "Sonho e Esperança" Fonte: http://www.aarf.org.pt)
     
(Foto do Edifício "Sonho e Esperança") [1.ª Rev.]

Uma comunidade católica na Aroeira, génese de um novo lugar de culto?

(Centro de Actividades Ocupacionais, no Edifício "Sonho e Esperança")


No dia 19 de Junho de 2011 realizou-se na Urbanização de Aroeira / Marisol, na «Associação Almadense Rumo ao Futuro», uma celebração religiosa da Paróquia da Charneca, não sei se se tratou da primeira a realizar-se neste zona da Freguesia da Charneca de Caparica, nem se será a génese de uma possível (?) nova comunidade cristã que no futuro poderá ganhar corpo num novo espaço religioso da Freguesia.

Na Paróquia de Charneca da Caparica, existem actualmente dois lugares de culto com missa regular: a Igreja Paroquial da Imaculada Conceição (edificada nos anos 60 do século XX), no lugar de Palhais (zona norte); e a Capela de São José (edificada em 1973 pelo Padre Condor), no lugar das Quintinhas (zona sul).
Se passar a existir missa regularmente na Aroeira, poderá tratar-se da génese de um terceiro lugar de culto / comunidade católica na Freguesia da Charneca de Caparica, por isso é importante guardar este dia, 19 de Junho de 2011, como mais uma data que deverá ficar registada na história e património desta Vila do Concelho de Almada.

RUI M. MENDES
Caparica, 20 de Junho de 2011


Edições e Revisões deste Artigo:

1.ª Ed.:       20/06/2011
1.ª Rev.:     26/06/2011
2.ª Rev.:     17/03/2012
3.ª Rev.:     18/08/2012

quarta-feira, 30 de novembro de 2011

Quinta de Santa Bárbara e Costas de Cão


A História da Quinta de Santa Bárbara e do Lugar de Costas de Cão


(Fachada da Quinta de Santa Bárbara)

Situado entre o Monte de Caparica e a Trafaria o lugar de Costas de Cão é um pequeno aglomerado  populacional, que actualmente pertence a estas duas freguesias de Caparica e Trafaria, e que no século XVIII também era designado por Costa de Cão.

Não se sabe qual a origem exacta do topónimo “Costas de Cão” no entanto esta poderá estar relacionada com a topografia local (existindo outros locais no país com nomes parecidos ou idênticos como Costas de Cão no concelho de Monção ou Rosto de Cão em Ponta Delgada) ou ainda com o brasão dos Costas antigos proprietários em Costas de Cão.

No entanto um pouco mais a poente deste mesmo local, antes do caminho do Montinhoso, há referência a um topónimo mais antigo o «Brunhal» ou «Abrunhal» associado a uma propriedade designada como a «Quinta do Brunhal» em 1478 (pertencia então a um D. Pedro de Castro que dela pagava foros às Igrejas de Almada)  e «Casal do Brunhal» em 1488 (pertencia já a D. Fernando de Castro).

A Quinta de Santa Bárbara, actual Lar-Granja Luís Rodrigues da Santa Casa da Misericórdia de Almada, é um espaço que está associado à própria história do lugar de Costa de Cão, uma vez que é precisamente nos documentos mais antigos sobre esta quinta que encontramos uma das referências mais antigas sobre este lugar da Freguesia da Caparica, trata-se de uma Escritura feita no ano de 1653 em que se refere à Quinta de Santa Bárbara como «Quinta do Poço Novo do Outeiro», ou «que por outro nome mais antigo se chama o Lugar de Costas de Cão».
Nela morava então o Padre Simão Guardês Peixoto, que ai tinha mandado edificar uma Ermida da invocação de Santa Bárbara, a qual dotava em 3$000 réis anuais impostos numa vinha em bacelo da mesma quinta.
 
(Vestígios de dois painéis em Castelo Picão um dedicado a Santa Bárbara e outro desconhecido)

Simão Guardês Peixoto, que veio morar para Almada na primeira metade do século XVII (em 1636 registamos a sua presença em Almada), era um padre açoriano de origens fidalgas cuja família (Guardês ou Guardez ou Gardez) foi uma das primeiras famílias a colonizar a zona oriental da Ilha de Santa Maria na primeira metade do século XVI. A sua vinda pode estar relacionada com a presença em Almada de um outro mariense importante – Francisco Curvelo de Andrade, Moço da Câmara Real, Cavaleiro e Fidalgo da Casa Real e Tabelião de Almada nomeado por D. Filipe I em 1595.

Sendo natural da Ilha de Santa Maria e existindo nesta ilha uma Igreja dedicada a Santa Bárbara é muito provável que a escolha do título da ermida da sua casa na Caparica estivesse relacionada com aquele culto da sua terra natal.
(Santa Bárbara – Ilha de Santa Maria, Açores)
(Imagem de Santa Bárbara da Igreja Paroquial de Santa Bárbara – Ilha de Santa Maria, Açores)

Em 1654 a mesma Ermida de Santa Bárbara é aberta ao culto público com Licença do Cabido da Sé de Lisboa, que então administrava o Arcebispado de Lisboa.

Em 1675 inicia-se na Caparica a tradição da Via Sacra do Senhor dos Passos na Semana Santa, cujo percurso começava na Igreja matriz e terminava na Capela da Quinta do Carmo em Murfacém (segundo nos dizem os arquivos carmelitas) e estava pontuado por diversos passos ou nichos da Via Sacra, hoje já desaparecidos ou transformados como acontece com o que existe no Largo da Torre ou os que estão na entrada da Quinta da Santa Bárbara.

(Local dos antigos Passos da Via Sacra na entrada da Quinta de Santa Bárbara)

Pouco se sabe dos proprietários desta quinta a partir de 1654 até 1733 apenas se sabe quem em 1669 os livros da paróquia registam em Costas de Cão uma quinta de Manuel de Macedo, sem se poder afirmar que se trate da Quinta de Santa Bárbara, no entanto é já em 1733 que voltamos a ter notícias da mesma quando então aqui morava António Lobo de Araújo Pereira [ver elementos biográficos no fim do artigo] que aparece numa escritura feita em Almada como «morador em Costa de Cão na sua quinta de Santa Bárbara».
Por outra escritura feita em Almada em 1738 ficamos a saber que a quinta de António Lobo era delimitada a poente por um prazo foreiro do Marquês de Valença, que ficava onde chamavam o «Brunal» e pelo norte com vinha que ficou de António da Costa Gil. E em 1758 ficamos a saber por um novo emprazamento que um dos bacelos da sua quinta era um prazo da Irmandade de N.ª Sr.ª da Concórdia (Fabriqueira da Freguesia de N.ª Sr.ª do Monte de Caparica), irmandade da qual António Lobo era aliás irmão aparecendo como procurador da mesma em 1752 junto com D. Luiz da Noronha, tio do Conde dos Arcos.

Em 1755 dá-se o Grande Terramoto de 1 de Novembro, o qual terá certamente deixado marcas no edificado da quinta, os quais no entanto não são merecedores de especial comentário do Cura da Caparica nas suas Memórias Paroquiais relatadas em 1758, em que diz a propósito da povoação e da ermida o seguinte:
«Costas de Cão, 8.ª povoação em que há 30 fogos, e uma Ermida de St.ª Bárbara, em a quinta de António Lobo de Araújo. Em esta povoação termina o lugar ou vara de Fonte Santa».

Em Abril de 1757 António Lobo de Araújo Pereira inclui a Quinta de Santa Bárbara no dote de casamento da sua filha - D. Águeda Josefa Lobo de Macedo, para que esta casasse com o seu primo D. Fernando José da Cunha Pereira. No sumário da escritura, registado no Livro do Distribuidor de Lisboa desse ano, diz-se que esta quinta constava de vários prazos em vidas e em fatiota e que tinha então um encargo de uma dívida de 5$000 Cruzados a juro, provavelmente resultante das obras de recuperação ou reedificação dos bens imóveis do dono incluindo a própria quinta. A doação era feita com a obrigação de se pagarem anualmente e vitaliciamente 30$000 rs a cada uma das duas irmãs de D. Águeda – D. Joana e D. Teresa.

(Fotografia do princípio da década de 1970 – Fonte: Jornal de Almada)

Depois de mais um lapso de tempo sem elementos documentais voltamos a encontrar uma notícia da quinta em 1805 em um anúncio de venda publicado nesse ano na Gazeta de Lisboa:
«Quem quizer comprar a Quinta de Santa Barbara no sítio de Costas de Cão em Caparica termo da Villa de Almada a qual consta de vinha, pomar de caroço, horta e oliveiras pôde ir ter com seu dono que assiste na mesma Quinta».

Em 1858 Inácio Rodrigues Martelo, antigo feitor das propriedades do Sr. Conde de Porto Covo Bandeira, em Caparica, comprou a Quinta de Santa Bárbara a Luiz de Almeida, que também foi proprietário da Quinta de Brielas (outra quinta que mais tarde vai entrar no património da Misericórdia de Almada). A Quinta de Santa Bárbara era então constituída por diversos prazos, sendo que dois deles em 1873 eram foreiros à Irmandade do Santíssimo Sacramento da Freguesia de Caparica (sucessora da Irmandade de N.ª Sr.ª da Concórdia), tratava-se de uma courela encravada na vinha de Santa Bárbara que pagava 210 réis pelo Natal, e de uma morada de casas que pagava 1500 réis também pelo Natal.

Em 1885 a Quinta de Santa Bárbara encontrava-se inscrita na Matriz N.º 2 do Registo Predial do Concelho de Almada com o n.º 1514 com rendimento colectável de 49$875 e era propriedade de Gertrudes Emília, viúva de Ignacio Rodrigue.

Em 1897 o historiador almadense Vieira Jr. descreve assim a povoação e quinta de Costas de Cão:
«Mais adeante da Torrinha fica pequeno sítio de Costas de Cão, onde à esquerda está o cemitério municipal, construído em 1883 no casal denominado da Baboseira, estendendo-se até grande distância o profundo Valle de Meirinho [Marinho], todo elle composto de fazendas e quintas escrupulosamente cultivadas.
Em Costas de Cão há dois estabelecimentos de mercearia e vinhos, que ali são muito antigos, e que actualmente pertencem aos srs. João Lourenço da Cunha e Romão Augusto Nunes.
É também em Costas de Cão a residência do sr. Luiz António Rodrigues, que ali possue uma excelente quinta e uma vasta casa de habitação, d’onde se disfructa uma linda vista, muita longa e pitoresca.
Esta quinta, que foi adquirida pelo sr. Ignácio Rodrigues, antigo feitor das propriedades do sr. Conde de Porto Covo Bandeira, em Caparica, pertencera antes ao já extincto Luiz de Almeida, dono que também fora da quinta de Briellas, e de quem mais adeante falaremos, quando chegarmos à Trafaria.
O sr. Luiz António Rodrigues, vulgo Luiz do Ignacio, torna-se também digno que d’elle aqui se faça uma especial referência, por quanto, ainda que muito novo, é um carácter probo e honesto, a honradez personificada»

Em 1945 o Conde dos Arcos refere que a quinta em 1930 pertencia a D. Maria dos Anjos Canelas Gomes Rodrigues (viúva de Luís António Rodrigues), que a deixou à Misericórdia de Almada para Asilo de Velhinhos e que da ermida havia ainda alguns vestígios numa das suas dependências.

Após as devidas obras de adaptação o espaço foi oficialmente inaugurado como Lar Granja Luís Rodrigues em 26 de Fevereiro de 1950, conforme nos relata o Jornal Praia do Sol numa cerimónia muito própria do tempo de então:
«A inauguração realizou-se no domingo, 26, de manhã e constituiu uma bela afirmação de fé nos destinos da assistência do concelho. A assistência era numerosa. O sr. Subsecretário da Assistência fazia-se acompanhar pelo sr. Governador civil de Setúbal, dr. Correia Figueira, pelo comandante Henrique Tenreiro [Presidente da Câmara de Almada] e pelo seu secretário dr. Amaral Marques. Estavam presentes os vereadores sr. tenente-coronel Adriano Dores, Virgílio Alves Xavier, Silvestre Rosmaninho, presidentes e vogais de todas as juntas de freguesia do distrito ; ainda representantes do comando de artilharia da costa e delegado marítimo, vice-reitor do Seminário de Almada, representante da Junta Central da Casa dos Pescadores, de associações e colectividades concelhias, das comissões políticas da União Nacional, da Colónia de Férias a Pedro Teotónio Pereira», e centenas de individualidades. Mais do que os nomes ilustres de tantas pessoas representativas, interessa o registo do facto em si, o valor da manifestação ao membro do Governo presente, o simbolismo transcendente da cerimónia, que foi ilustrada pelos voluntários de Cacilhas, Almada e Trafaria, pela banda dos Pescadores da Costa, por estandartes e troféus e pela assistência de muito povo. Na sala de estar dos velhinhos do Asilo-Granja, o sr. Provedor da Misericórdia pronunciou algumas palavras, muito sensatas, de agradecimento pela presença de tão categorizadas personalidades, e salientou o ambiente de paz e concórdia que torna possível, dentro do Estado Novo, realizar tantas obras a bem dos portugueses. Do notável discurso do sr. Subsecretário da Assistência sublinhamos a sua exaltação da obra das Casas dos Pescadores e a acção desenvolvida pelo comandante Tenreiro na Misericórdia de Almada. Disse: Esta doação, que consagra mais, deve servir de estímulo e de exemplo à gente boa do concelho de Almada. Os pobres são credores dos ricos. Estes, dando, recebem em tranquilidade de consciência e no prazer de colaborarem no bem comum».


(Ala moderna do Lar)

Com o apoio do Ministério das Obras Públicas foram feitas novas obras entre 1962 e 1967 com a construção de raíz de novas instalações ampliando as existentes, obras que foram inauguradas em 20 de Julho de 1968.
Na sequência destas obras foi também aberta ao culto uma Capela privativa no Asilo Granja Luís Rodrigues, pelo vig. Episc. Cónego João Alves conforme noticia o Praia do Sol de 1 de Agosto de 1969.

Por fim entre 1995 e 1997 realizam-se importantes obras de restauro e ampliação incluindo uma nova capela e instalações para o arquivo, conforme documenta o Jornal de Almada de 29 de Julho de 1995:
«Importantes obras de beneficiação no edifício do Lar da Misericórdia em Costas de Cão
Construção de um edifício de dois pisos: rés-do-chão alguns serviços, a capela e quartos. O primeiro andar conta com gabinete médico e de enfermagem, farmácia, dois quartos de isolamento, sala de esterilização, duas enfermarias, sanitários para dependentes e convencionais e ainda uma sala espera, fazendo-se a ligação entre os dois piso, além da escada por um monta-cargas comum ao transporte de pessoas.
As obras cujo custo está estimado em 38 mil contos foram iniciadas em Março de 1995. O projecto arquitectónico é de Guerreiro, os cálculos estruturais são do Eng.º Domingos Lé e a fiscalização da obra está a cargo de Elias Carção Ribeiro.
Registe-se que a Misericórdia de Almada tem desenvolvido meritória acção social, nomeadamente no apoio aos idosos, não só através do Lar de Costa de Cão, como no domicílio. As obras agora em curso visam melhor serviço aos que ali se acolhem mas também é digno de registo que a acção da Misericórdia não se limita só aos idosos. No apoio aos jovens esta benemérita instituição faculta a muitos o tecto acolhedor que nunca tiveram.
Manuel Lourenço Soares»

(Nova Capela de Nossa Senhora de Fátima)

No dia das Misericórdias 31 de Maio de 1997 foram visitadas as renovadas instalações do Lar Granja Luís Rodrigues da Misericórdia de Almada tendo de seguida sido celebrada missa na reconstruída Capela do Lar a que presidiu o Pe. Alfredo Fernandes Brito e com a presença o Grupo Coral “Cantante Vive” da Amora.


RUI M. MENDES
Caparica, 30 de Novembro de 2011

Revisão 1 de Dezembro de 2011

António Lobo de Araújo Pereira
Cavaleiro da Ordem de Cristo e da Ordem de S. Tiago e Espada, Familiar do Santo Ofício (TT-TSO, Conselho Geral, Habilitações, António, mç. 134, doc. 2232), aparece em 1733 como residente na Caparica, em Costa de Cão na sua quinta de Santa Bárbara.
Diz a sua habilitação de familiar do Santo ofício em 1724 que era:
«Proprietário do ofício de escrivão do consulado da Corte, natural da freguesia da Encarnação e morador na de Santa Justa, em Lisboa, filho de João de Araújo Barroso, natural de Vila Nova de Cerveira, familiar do Santo Ofício, e de D. Teresa Maria Lobo de Macedo, natural da vila de Arruda; neto paterno do licenciado Gonçalo de Araújo e de D. Antónia de Amorim; e materno de Francisco Leitão de Macedo e de D. Brites Loba de Barcelos, natural de Évora. Solteiro, vivendo com Maria Doroteia, natural da freguesia de Nª Sª dos Mártires, em Lisboa».
(TT-TSO, Conselho Geral, Habilitações Incompletas, doc. 522)

Em 1752 era irmão da Irmandade de N.ª Sr.ª da Concórdia da Caparica aparecendo como Procurador da mesma junto com D. Luiz da Noronha.
Tinha três filhas: D. Águeda Josefa Lobo de Macedo, que casou com um sobrinho de António Lobo – D. Fernando José da Cunha Pereira; e D. Joana e D. Teresa.
Tinha o Ofício de Escrivão do Consulado da Alfândega tendo recebido em 1764 a mercê de continuação do mesmo no seu filho José Faustino Lobo de Araújo Pereira (TT-RGM, D. José, Liv. 18, fól. 313v).


Para mais informação consultar:

Siglas:
ADL – Arquivo Distrital de Lisboa
ADS – Arquivo Distrital de Setúbal
CNA – Cartórios Notariais de Almada
CDL – Cartório do Distribuidor de Lisboa
AHPL – Arquivo Histórico do Patriarcado de Lisboa
OSCP – Ordem de Santiago / Convento de Palmela
PRQ – Registos Paroquiais
TT – Torre do Tombo
AHMF – Arquivo Histórico do Ministério das Finanças
BCJPE – Boletim Cultural da Junta de Província da Estremadura

Fontes
1478 – TT-OSCP, Mç. 1, n. 45 (MF 7545 #3), fól. 10
1488 – TT-OSCP, Mç. 2, n. 55 (MF 7545 #4), fól. 13
1595 – Aires Passos Vieira, Almada no Tempo dos Filipes
1636 – ADS-CNA, Caixa 4390, Livro 41, fól. 14
1653/54 – AHPL, Ms. 660/UI. 317, fól. 122-123
1669 – ADS-PRQ, Almada, Caparica, Óbitos, Liv. 4, fól. 161v
1675 – ADS-PRQ, Almada, Caparica, Óbitos, Liv. 5, fól. 3
1733 – ADS-CNA, Livro 82, fól. 11
1752 – ADS-CNA, Liv. 103, fól. 117
1758 – ADS-CNA, Liv. 112, fól. 52v
1757 – ADL-CDL, Liv. 118, fól. 209
1805 – Gazeta de Lisboa, Ed. 8 de Junho de 1805
1858 – TT-AHMF, Desamortização e Foros, Liv. 463, fól. 741v e 743
1885 – Mappa organizado de acordo com o regulamento de 25 de Agosto de 1881 dos Contribuintes inscriptos na Matriz Predial (informação cedida pelo Dr. Francisco M. Silva)
1897 – Duarte Joaquim Vieira Jr., Villa e Termo de Almada, 1897, p. 190-191
1945 – Conde dos Arcos, «Relação dos Templos de Caparica», BCJPE, n.º 10, 1945, p. 346
1950 – Jornal Praia do Sol, A.1, N.6, Ed. 1 de Março de 1950
1969 – Jornal Praia do Sol, A.20, N.284, Ed. 1 de Agosto de 1969
1997 – Jornal de Almada, Ed. 6 de Junho de 1997

Outra bibliografia:
ANOTAÇÕES AO LIVRO III DAS SAUDADES DA TERRA DO DR. GASPAR FRUTUOSO POR MANUEL MONTEIRO VELHO ARRUDA

sexta-feira, 24 de junho de 2011

Trafaria (1): Ermida de Nossa Senhora da Conceição





Hoje falo de um marco do património local do Concelho de Almada que tem trazido sempre muitas interrogações a todos quantos passam pela vila da Trafaria, trata-se da Ermida de N.ª Sr.ª da Conceição, localizada na zona a nascente da via de acesso ao cais de embarque, e que foi edificada em 1751 pelo Padre José Duarte da Silva, Beneficiado da Patriarcal de Lisboa, que aqui tinha uma quinta com casas nobres, horta e pomar, terras de pão e vinhas.

Segundo o Conde dos Arcos em «Caparica através do Séculos» (1972) terá sido neste local a antiga quinta da Ladeira, sede de um Morgado fundado por Gaspar da Rua Magriço, em que sucedeu Domingos Ribeiro Cyrne (era então a Trafaria um sítio do lugar de Murfacém) e que depois foi aforada ao referido Padre José Duarte.

Foi aliás nas terras de Gaspar da Rua que em 1565 o «Cardeal D. Henrique, em nome de D. Sebastião, ordena a criação de um local (…) para a quarentena das tripulações dos navios provenientes dos locais afectados pela peste» e que mais tarde veio dar origem ao Lazareto do Porto de Belém depois chamada Presídio da Trafaria.

Antes da fundação desta capela era na Ermida do Lazareto (dedicada a N.S. da Saúde) edificada em 1678 por iniciativa de D. Diogo de Faro (Provedor-mór da Saúde da Câmara Municipal de Lisboa) que o povo da Trafaria assistia às celebrações religiosas.

Nas obras de reedificação do Lazareto do século XVIII (1743) pelo arquitecto Carlos Mardel o acesso à Ermida do Lazareto foi murado, e assim ficaram os moradores da Trafaria sem local de culto, neste sentido os Mestres das Embarcações do Pescado do Porto da Trafaria juntaram-se e em 1747 obtiveram licença do Cardeal Patriarca de Lisboa para poderem edificar uma nova ermida fora das muralhas do Lazareto e na qual já tinham o compromisso de um dos Padres do Convento dos Capuchos em lhes dar graciosamente assistência espiritual.

(Arquitecto Carlos Mardel. Quadro a óleo sobre tela, s.d.)
Fonte: http://oeirascomhistoria.blogspot.com/2011/05/carlos-mardel.html

Certamente pelas dificuldades do povo da Trafaria em levantarem a tal ermida ou em encontrarem o sítio adequado, para o mesmo tomou o Padre José Duarte a iniciativa de edificar uma Capela pública na sua quinta da Trafaria, dedicando-a a Nossa Senhora da Conceição. Por iniciativa do mesmo clérigo congregaram-se os moradores da Trafaria numa Irmandade do mesmo título da Ermida para com as esmolas dos seus irmãos se poder sustentar um capelão que ali dissesse missa aos domingos e dias santos, e assim funcionou como o principal templo do lugar até ao princípio do século XIX, pois nele se encontrava o «Santíssimo Sacramento» e aí eram publicados em 1798 os Editais do Tribunal da Inquisição.


(Pormenor do portal da Ermida, num estilo já próximo do pombalino, risco de Carlos Mardel ???)

Segundo um documento que consultámos no Arquivo Histórico do Patriarcado de Lisboa, no Expediente da Vigararia de Almada, a ermida ficou totalmente arruinada num incêndio em 1811, «sem que se pudesse salvar cousa alguma» e em 1827 ainda se encontrava na mesma ruína, tendo sido recuperada pouco depois.

Voltou no entanto  a ser vítima de novo incêndio em 1835 segundo Duarte Joaquim Vieira Jr. (Vila e Termo de Almada, 1897, p. 199) ou 1833 segundo o Conde dos Arcos («Relação dos Templos e Caparica», Boletim Cultural da Junta de Província da Estremadura, n.º 10, 1945,  p. 350), que nos indica também pertencia então (em 1945) a João Baptista Danino que a herdara dos avós e que a imagem da padroeira da Capela (de que o Padre José Duarte da Silva tinha muita devoção) estava desde o incêndio de 1833 na Igreja de S. Pedro da Trafaria.



(Imagem de N.ª Sr.ª da Conceição, hoje na Igreja de S. Pedro da Trafaria)


("Velha Torre - Trafaria", Aguarela de Manuel Tavares datada de 1955)
Publicada na capa de Almada na História, n.º 17-18 e por Diamantino Vasconcelos em http://galeria-lambertini.blogspot.com/2011/02/ermida-de-n-s-da-conceicao-trafaria-por.html

RUI M. MENDES
4 de Junho de 2011


Fontes:
(1565) AML-AH, Provimento de Saúde, Livro I de Provimento de Saúde, doc. 114 (antigo 117)
(1678) AML-AH, Chancelaria Régia, Livro V de Consultas e Decretos de D. Pedro II, f. 301 a 302
(1743) AML-AH, Chancelaria Régia, Livro XV de Consultas e Decretos de D. João V, do Senado Ocidental, f. 91 a 94
(1747) DGARQ-TT, Câmara Eclesiástica de Lisboa, M.1809, n.312
(1751) DGARQ-TT, Câmara Eclesiástica de Lisboa, M.1810, n.260
(1798) DGARQ-TT, TSO, Inquisição de Lisboa, M.63, n.3, #25
Bibliografia:
MENDES, Rui, "Património religioso de Almada e Seixal: Ensaio sobre a sua história no séc. XVIII", Anais de Almada, Nº 11-12, 2010, pp. 67-138